segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Resposta para o Guilherme Daher, parte I

O Guilherme aí nos comentários de Dies irae, fez umas perguntas difíceis de responder de uma vez. Vamos por partes, então. Rapaz, vc vai acabar virando crítico literário. Tremendamente apropriadas, além de muito bem organizadas, suas perguntas. Fiquei meio zonzo, sendo posto assim na parede. Mas vamos lá. De antemão vc fique sabendo, como eu já preguei por aí afora, que a minha resposta é só UMA das respostas possíveis. As suas, tão verdadeiras quanto as minhas.

Isso posto, toca o comboio:

Começo pelo fim: Lázaro, no conto, não na Bíblia, que lá ele some assim que ressuscita, me parece ter-se negado a testemunhar a favor de Cristo (logo Lázaro, o ressuscitado), como o fez Pedro, que disse "não" três vezes, quando lhe perguntaram se era amigo dO Cara (e quem era besta de encarar os romanos naquela época?). Então, ele foge. Pedro fugiu, todo o mundo se escafedeu e largou Cristo pra lá. Lázaro também fugiria. Impossível saber por quê ou de quê. Medo, vergonha? Se vc leu O caçador de pipas, deve ter percebido que a gente tende a (se) afastar (d)aquilo que nos lembra nossos erros. Talvez isso tenha acontecido ao nosso Lázaro. Envergonhado por não ajudar aquele que lhe devolvera a vida, ele foge. E, pelo visto, foge para outro tempo. Através dos tempos, sempre vamos encontrar lázaros mal-agradecidos. Mas aquilo de que ele fugia (sua covardia, p. ex.) vai estar sempre com ele. Será sua tradição e maldição. É num tempo não bíblico, portanto, que seu passado, quando ele talvez já não se recordasse dele, o reencontra, na figura de Cristo. A identificação com o personagem bíblico só ocorre nos diálogos com Jesus porque talvez esse Lázaro amedrontado que depara com seus próprios receios seja uma metáfora de todos aqueles que, ao longo da vida, se escondem quando deveriam estar à vista.

Engraçado é que ninguém se pergunta que fim levou esse personagem bíblico, para mim tão enigmático e importante quanto Judas.

A questão do tempo, veremos a seguir. Parte II vem aí.

3 comentários:

Guilherme Daher disse...

Este seu comentário foi como acender uma lâmpada em meio a escuridão^^, tal forma que esclareceu minha dúvidas.Quando eu li pela primeira vez o texto , não tinha associado a ingratidão a figura de Lázaro.Agora, visto desse ângulo,consigo entender as partes que não tinha conseguido assimilar.E , outras dúvidas ficam também , repondidas , como a fúria de Jesus com Lázaro , a sua fuga para um tempo "distante".
Nem sei como agradecer a paciência que teve comigo , ao responder essas prguntas.Obrigado , mesmo ^^.
Ps: Sobre Lázaro , a sua figura na Bíblia parece ser de figurante, sendo sua história ignorada pelos evangelhose pela própia tradição cristã(nem uma lenda , talvez...). Mas , talvez esse conto vêm preencher esse vazio.

Miguel Marvilla disse...

Guilherme, a proposta deste blog é o debate com os interessados. Nem tem o que agradecer. Leitores como vc fazem com que eu mesmo reveja o que escrevi, sob ângulos, às vezes, diferentes. E ainda tem a segunda parte. Güenta as pontas. Chame seus amigos pra cá e a conversa aumenta.

Abraços.

Miguel Marvilla disse...

Rapaz, e dei uma bisbilhotada no seu blog tb. Qualquer hora apareço lá, com mais calma, até para vc não ficar só com o seu leitor "número único".