quarta-feira, 21 de março de 2007

Princípio de conversa - I

As três partes do todo

A primeira edição de Os mortos estão no living (1988) trazia duas divisões: “Os mortos” e “Os outros”. Se a primeira parte tratava dos mortos, “os outros”, por antonímia, só poderiam ser os vivos — aqueles que, portanto, por imposição natural, estão sujeitos à morte, como viu bem o Pedro Nunes lá no Tertúlia. Isso conferia ao livro unidade e circularidade: uma parte completava a outra, sem que se pudesse precisar qual era princípio, qual era fim.

Na presente edição, porém, acrescentei uma terceira parte, chamada, ironicamente, de “Faixa bônus”, como essas faixas extras nos cedês e devedês que os produtores não sabem onde enfiar. No meu caso, depois que a incluí, pensei ter perdido a unidade do livro, mas então percebi que ocorrera o contrário: o conto da faixa bônus, “Cada um por si”, trata, possivelmente (há leituras diferentes), de vampiros. E vampiros (presentes em várias passagens), como se sabe, são mortos-vivos, de modo que o livro passou a ter uma parte que fala dos mortos, uma que fala dos vivos e uma que fala... de mortos-vivos. A mim me parece que os mortos estão vivos ao longo dos contos. Ou não?

3 comentários:

l. p. disse...

É. E é realmente esse o meu conto preferido. A imagem que se faz na cena final é de se ler e reler. Além de amarrar bem mesmo o livro, bem mesmo.
Interessante o que se descobre...

Lia Noronha disse...

Miguel: envolvimento ...é uma palavra sempre constante...qdo lemos suas obras!
Abraços

Miguel Marvilla disse...

Obrigado, Lia. Apareça mais vezes, em dias atuais (p q aqui, tão longe no passado?)... Mas eu queria ler mais dos abandonados desde 2006 "Pequenos contos"...