domingo, 9 de dezembro de 2007

D. asm / Alice e a redação no VestUfes

Aqui embaixo, no post Pink & Floyd, a sra. asm (ou Alice, ou Anônima), a (ex) tímida, escreveu:

"Eu gosto de escrever, gosto de algumas coisas q escrevo, mas tenho dificuldade de falar em público, e tb de escrever com alguma pressao: tempo, tema q eu nao domine, e o principal, saber que estao avaliando o texto, fazendo um julgamento. Tenho certeza q na prova vou deixar muito a desejar por causa desses fatores, tb pq gosto de escrever mais poemas, coisas + subjetivas.
O q vc acha q devo fazer nesse pouco tempo q tenho para amenizar esse problema, acho q muitas pessoas devem se sentir assim tb."

Então... eu acho que vc já tem um bom e um péssimo começo, simultaneamente. O bom, claro, é gostar de escrever. Isso já faz de vc alguém para quem uma caneta é algo tão natural quanto sentir sede. O lado péssimo é que, por medo, vc já começa derrotada ("Tenho certeza q na prova vou deixar muito a desejar"). Daí que, a primeira coisa a fazer é relaxar, acreditar em vc, ter confiança nas suas qualidades e entrar no jogo pra ganhar. As redações da Ufes não são meramente subjetivas (mas subjetividade ajuda muito): antes, exigem dos candidatos uma série de habilidades e conhecimentos objetivos. Nesse ponto, o melhor a fazer é treinar a escrita sob pressão (marque um tempo e pratique sozinha ou com a ajuda de alguém, para controlar a ansiedade) e, principalmente, ler, ler muito (que, aliás, é o que todos deveriam ter feito durante o ano): quem lê muito pode não escrever, mas quem não lê, com certeza não escreve — por falta de assunto.

Abre parênteses: meu filho, Frederico, teve aulas particulares com José Augusto Carvalho. Frederico era muito bom em gramática, sintaxe e ortografia. Um dia José Augusto me disse: "Seu filho escreve muito bem... sobre nada". Faltava conteúdo. A partir daí a gente intensificou as leituras dele e ele foi aprovado na UFMG. Fecha parênteses.

Leitura não é pesadelo de vestibulando. Enfiam isso na cabeça de vcs, mas é o contrário: ler é prazer diário. Na medida em que encontramos prazer no que fazemos, o que fazemos fiza bem melhor. A vcs, meninos e meninas da Ufes, aconselho que se habituem a ler pelo menos uma revista por semana. TODA SEMANA. O RESTO DA VIDA. Descontando os defeitos que todas têm, Veja, Época, Carta Capital, IstoÉ, são ótimas fontes de informação (quem souber inglês ou alemão pode tentar a Time e a Der Spiegel hehe). Além disso, o cuidado que dedicam à sintaxe, à gramática e à ortografia (sem contar o estilo de escrita) faz com que a gente aprenda essas coisas na prática, por osmose, sem ficar se estressando com todas aquelas nomenclaturas esquisitas. Das revistas em circulação por aí, a minha favorita é a Piauí, que aborda assuntos os mais díspares (de matéria com o vigia de um banheiro subterrâneo em Copacabana a uma discussão sobre a percepção da beleza — uma matéria fantástica com um dos maiores violinistas do mundo, Joshua Bell, tocando anônimo, com um Stradivari!, numa estação de metrô em Washington), de maneira inusitada e muito, muito, interessante.

Quando falo em leitura, falo em ler tudo que passar pela frente: anúncio de absorvente, placa de ônibus, bula de remédio... mas falo principalmente de livros, jornais e revistas. É com as idéias contidas neles que a gente alimenta a inteligência, a sensibilidade, o espírito. E é com isso que vcs farão a prova de redação (e outras) no VestUfes. O melhor, porém, é que, passado o vestibular, o que se leu permanece, faz parte de quem vc é.

Defendo a leitura de TODOS os livros que a Ufes indica: é uma oportunidade para que se conheçam muitas novas idéias (ainda que ninguém seja obrigado a concordar com elas). Não acreditem que não há tempo para a leitura e que a leitura é rodapé do vestibular. Talvez sejam poucas as perguntas na prova, mas as perguntas que vcs se farão ao longo da vida certamente se multiplicarão. E podem apostar: é muito mais importante fazer perguntas do que dar respostas (se ninguém tivesse perguntado "Que fungo é esse?", hj não teríamos a penicilina). Por isso, meninos e meninas, e em especial vc, d. asm/Alice/Anônima: NÃO LEIAM RESUMINHOS, a menos que já tenham lido os livros. Resuminhos são inúteis para o vestibular, depõem contra a inteligência de vcs, diz que vcs são preguiçosos e incapazes de entender o que lêem (o resuminho "entende" pra vcs) e só servem para que, nesse caso sim, vcs percam tempo.

Por falar nisso, então, resumindo: leitura é fundamental para uma boa prova de redação, livros e revistas e jornais (apesar das más notícias) dão prazer para o resto da vida (ao contrários dessses BBBs) e praticar a escrita diariamente é a melhor forma de se livrar do stress e do medo para a prova. Afinal: nós somos o que fazemos cotidianamente. A excelência é um hábito, não um acidente.

Boa sorte a todos nas discursivas (ah, jamais, mas jamais mesmo, deixem uma questão sem resposta: inventem, digam bobagem, mas não entreguem em branco. Melhor uma resposta tosca, nada-a-ver, do que uma em branco: essa é zero mesmo).

Bjs, d. asm-Alice-Anônima.

9 comentários:

Anônimo disse...

Olá Miguel, valeu pela dica :)

bjs

Anônimo disse...

Boa noite sr.Miguel! já q vc quis viver o assunto, agradeço a atenção.
Eu nao passei nao :( mas a dica está valendo.

inté

Miguel Marvilla disse...

Puxa, d. asm, que pena. Mas não desista. Procure ver onde vc falhou e corrija. Não se preocupe com tempo. Faça o seu tempo. Diz Confúcio (a essa altura da internet a gente não tem mais certeza de quem disse o quê) que "o viajante que sobe uma montanha em busca de uma estrela e se perde com os problemas da caminhada arrisca-se a perder a estrela que o guia". Tudo bem, é ruim de alguém subir montanha hj em busca de estrelas, aliás, é ruim até de alguém saber o que é montanha, o que é estrela, sem recorrer ao Google, mas vale adaptar o que um chinês milenar disse ao que vemos em e de nossa época de bits e bytes.

Não some não.

Bjs.

•••
Luluzinha, que bom te ver de volta. Andou sumida...

Anônimo disse...

hahahaa Miguel, vc é ótimo! a minha intuiçao diz q a asm vai sumir um tempo, já q ela nao passou na primeira fase. Mas eu estarei por aqui sempre q puder.

beijinhos

Anônimo disse...

hum, interessante o q disse (..)pode ser um dos temas, bem temático nao? rsr

vlws!

bj

Anônimo disse...

Lulu, vc está enganada.. nao vou sumir.

Miguel Marvilla disse...

Eba! As muié vão brigar aqui no meu blog! Vou chamar uma galera pra ver...

Esse negócio de sumir e não sumir parece coisa de Harry Potter. Vcs fizeram aulas em Hogwarts? huahuahua!

Anônimo disse...

Miguel,
Excelente este blog.
Antes, eu estava receosa quanto à segunda fase do vestibular, porque não entendia quase nada (ou nada mesmo rs) do livro. Desde pequena sou insegura quanto às minhas próprias interpretações de livros! rs
Agora, porém, sinto-me muuuuuito, mas muuuuuuito mais tranquüila, porque sei que, se cair sobre alguns de seus contos, ou seu estilo, vou saber escrever :D
Só tem um problema... Um conto que não me sai da cabeça; não consigo entender de jeito nenhum, não consigo captar aquilo que você quis dizer.
"O feto e as begônias". Se der, você pode discuti-lo aqui para mim, até no domingo? rsrs
É que as provas começam no domingo!!
Desde já agradeço.
Grande abraço!

Miguel Marvilla disse...

Vou tentar, Ísis, falar desse conto até domingo. Mas só tenho hoje à noite pra fazer isso. Amanhã vou lançar meu livro novo em Colatina e de lá vou a Barra de São Francisco. Se não der tempo de fazer o que vc pede, por favor, me perdoe por antecipação.

É bom saber que este blog ajudou a esclarecer alguma coisa. Continuarei ano que vem, não apenas por conta do VestUfes, mas pelo prazer que me dá. Boa sorte pra vc.

PS: Não tenha medo de suas próprias interpretações. Um livro não é o que o autor quis dizer, mas o que seus leitores conseguem ler.